quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Festa de Santa Teresinha



"Ser tua esposa, oh, Jesus; ser Carmelita; ser, por minha união contigo, mãe das almas, deveria ser bastante para mim... Não é assim... Sem dúvida, estes três privilégios bem constituem minha vocação: Carmelita, esposa e mãe. Contudo, sinto em mim outras vocações. Sinto em mim a vocação de guerreiro, de Sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir. Enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar por ti, Jesus, todas as obras, as mais heróicas... Sinto em minha alma a coragem de um Cruzado, de um Zuavo pontifício. Quisera morrer num campo de batalha, pela defesa da Igreja...

Sinto em mim a vocação de Sacerdote. Com que amor, oh, Jesus, eu te traria em minhas mãos, quando, à minha voz, descesses do Céu... Com que amor te daria às almas!

Ah! Apesar de minha pequenez, quisera esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores. Tenho vocação de ser Apóstolo... Quisera percorrer toda a terra, pregar teu nome e implantar no solo infiel tua Cruz gloriosa. Quisera anunciar, ao mesmo tempo, o evangelho nas cinco partes do mundo e até nas ilhas mais distantes... Quisera ser missionária, não somente durante alguns anos, mas gostaria de tê-lo sido desde a criação do mundo e sê-lo até a consumação dos séculos...

O martírio, eis o sonho de minha juventude. Este sonho cresceu comigo nos claustros do Carmelo... Sinto, contudo, que também nisto, meu sonho é uma loucura, pois não saberia limitar-me a desejar um gênero de martírio... Para me satisfazer, seriam necessários todos...

Oh, meu Jesus! O que vais responder a odas as minhas loucuras? Haverá uma alma mais pequenina, mais impotente do que a minha? Entretanto, por causa mesmo de minha fraqueza, aprouve-te, Senhor, cumular meus pequenos desejos infantis, e hoje, queres realizar outros desejos, maiores que o universo...

Encontrei, enfim, o repouso... Considerando o corpo místico da Igreja, não me reconheci em nenhum dos membros descritos por São Paulo, ou antes, queria reconhecer-me em todos... A Caridade deu-me a chave de minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo, composto de diferentes membros, não lhe faltava o mais necessário, o mais nobre de todos. Compreendi que a Igreja tinha um coração, e que este Coração era ardente de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja e que se o Amor viesse a se extinguir, os Apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os Mártires recusariam derramar seu sangue... Compreendi que o Amor encerra todas as vocações, que o Amor é tudo, que abraça todos os tempos e todos os lugares... Numa palavra, que ele é eterno!

Então, no auge de minha alegria delirante, exclamei: Oh, Jesus, meu amor... Encontrei, enfim, minha vocação: minha vocação é o Amor!"

(Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
História de uma Alma, Manuscrito B)

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