sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Carmelo e a Solidão

J.M.+J.T.

Olá a todos!
Você já sentiu vontade de estar em solidão?
Muitas vezes a solidão é algo que vemos como negativo: ausência de amor, de pessoas que nos cercam... Será isso mesmo? E o que a solidão tem a ver com espiritualidade?
A Regra do Carmelo nos expõe algo sobre a solidão. Vamos a ela:

"5. Podereis fixar os vossos locais de residência na solidão, ou onde vos forem doados, desde que sejam adequados e convenientes ao vosso modo de vida religiosa, conforme o que parecer mais oportuno ao Prior e aos irmãos.
6. Além disso, tendo em conta a situação do lugar em que tenhais decidido estabelecer-vos, cada um de vós tenha a sua própria cela separada, conforme lhe for indicado pelo Prior, com o consentimento dos outros irmãos ou da parte mais madura."


O que a Regra quer dizer aqui? Que aqueles primeiros irmãos, vivendo em um espírito eremítico, deveriam procurar essa solidão para o encontro com Deus. Essa passagem da Regra recorda uma outra do Evangelho em que Cristo ensina os Apóstolos a orar: "quando orardes, entrai em vosso quarto e, fechando a porta, orai a Vosso Pai em segredo..." A solidão, assim como o silêncio exterior e o verdadeiro recolhimento, portanto, como dizia Thomas Merton, monge trapista, não é o fim, mas um meio para quem deseja levar a vida contemplativa. Como ele mesmo escreve, o fim primordial para todas essas coisas deve ser o Amor de Deus.
Já se falou aqui no blog em vida comunitária e talvez por isso soe um pouco estranho esse texto sobre solidão. Realmente, logo depois desses dois pontos na Regra, Santo Alberto de Jerusalém escreveu que isso era para ser feito de modo que as refeições e a leitura da Palavra fossem em conjunto. Thomas Merton nos coloca uma observação bem importante: quantas vezes nós estamos vivendo no meio de outras pessoas e isso não significa estar em comunhão com elas? A solidão mais verdadeira não é aquela externa, ou seja, o fato de estarmos sozinhos em algum lugar, sem comunicação com alguém; mas é como um "buraco" que se abre no centro de nossa alma, abrindo espaço ao Amor de Deus. Só Ele satisfaz esse sentimento de solitude. Podemos, se quisermos, fazermos mil retiros, com mil momentos de deserto; mas se não utilizarmos esse meio para nos preenchermos do Amor de Deus, de nada nos adiantará.
Nosso querido São João da Cruz já falava em "solidão sonora", porque nunca estamos sozinhos de fato, Deus, nosso Amado, sempre está conosco! Pela solidão de todo gosto, de toda criatura - não o contato com as criaturas, mas o apego a elas - que se pode, segundo o Santo, chegar à união com o Amado.

"Já não tenho outro ofício
Só amar, o exercício!
Solidão povoada, presença amorosa do Amado
Viver ou morrer, sem Ele eu não quero ser!"

Para concluir, deixo alguns "desafios" a todos que lerem esse texto:
- Como podemos viver essa solidão nos dias de hoje, como jovens carmelitas?
- Quando faço um deserto em um retiro, como me comporto? Aproveito esse momento de solidão com Deus?

Beijos, fiquem com Deus!!!

Nenhum comentário: